Poética de Aristóteles


A vida é uma longa aprendizagem de fazeres, e tão mais prazerosos eles são quanto mais esclarecida estiver a sua utilidade. Ainda que não existam registros formais disto, parece razoável afirmar que tão logo os seres humanos se organizaram em sociedade as pessoas com mais experiência passaram a ensinar aos mais novos professoralmente. Isso porque faz parte da nossa natureza procurar verbalizar as conclusões que tiramos dos diversos episódios, de forma a organizá-los lógica e coerentemente e a fim de torná-los compreensíveis aos demais membros de grupo.

A Poética (~330 a.C.) de Aristóteles não foi o primeiro livro escrito, tão pouco o conhecimento desenvolvido no mundo ocidental evoluiu de um único ponto. Mas se aprendemos alguma coisa com ela, é que os bons textos iniciam in media res, e que por isso submeter-se a parcialidade em nome da unidade é a melhor maneira de compartilhar o pensamento.

Neste livro, o filósofo que refletiu sobre todas as áreas do saber conhecidas em seus dias, procurou organizar tudo o que aprendeu sobre a arte da imitação para definir a poesia. A partir dele, estudiosos como Horácio, Boileau, Hegel, Lukács, Adorno, Barthes – e a lista das grandes mentes humanas que se interessaram pelo estudo da Literatura é imensa – desenvolveram suas próprias teorias acerca dessa área do saber pertencente ao que hoje chamamos Ciências Humanas. Por isso, e não poderia ser diferente, nós o elegemos como primeira pedra de toque da teoria literária.

Na Poética encontramos lições valorosas, que chamam a nossa atenção para os princípios mais elementares que não podemos perder de vista durante a análise de uma obra de arte que tem certa duração. Se Aristóteles colocou em um só pacote poesia lírica, poesia épica, composições dramáticas e outras composições como elegia, jambo e ditirambo, com a imitação em mente podemos acrescentar todas as artes que necessitam de uma certa extensão de tempo para serem apreendidas. Entre os exemplos mais novos temos as revistas em quadrinhos, alguns tipos de jogos e as produções audiovisuais.

Imitar é algo natural, congênito ao homem, mas há aqueles que são mais propensos a ela, tornando-se tanto melhor quanto mais a exercitam. Compreender o imitado, por sua vez, é algo que exige o aprumo do olhar. E, a nosso ver, a melhor forma de desenvolvê-lo é recolhendo experiências próprias e alheias. Conservar as primeiras no baú da memória e buscar as segunda através da pesquisa.   

Indicação bibliográfica:
ARISTÓTELES. Poética. Trad. Eudoro de Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 237-321. (Os Pensadores, 4).