O Comparatismo Literário realizado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo é uma proposta brasileira de estudos acadêmicos com preocupações semelhantes às do Projeto Alice do professor Boaventura de Sousa Santos e cujas formulações teóricas podem ser encontradas nos trabalhos do professor Benjamin Abdala Jr. Uma proposta agora de orientação sul/norte e sul/sul que inverte o fluxo tradicional da circulação dos saberes científicos no intuito de equilibrar o diálogo, para que possamos aprender-ensinando, num diálogo de reciprocidades.
Abdala Jr. aponta a necessidade de mudanças de atitude por parte do intelectual brasileiro para que esse diálogo de reciprocidades possa efetivamente ocorrer. Primeiramente, é preciso renovar as atitudes no âmbito da crítica literária brasileira no sentido de criarmos uma personalidade crítica própria e contestadora do pensamento hegemônico que hoje é imposto ao mundo, seja no âmbito das ciências ou no âmbito da vida político-social mais ampla. Além disso, é necessário que estreitemos nossas relações comunitárias, ou seja, nos tornemos mais próximos e conscientes dos nossos parentes linguísticos e culturais, para com eles criar um discurso de resistência ao discurso hegemônico global, um discurso novo que nos ajude a nos relacionar com o resto do mundo de uma forma nova, não mais como eternos colonizados. Não se propõe, com isso, a negação de todo conhecimento advindo as epistemologias do norte, para usar o termo de Boaventura Santos, mas se sugere o exercício de reflexão ativa sobre esses conhecimentos, que diferente da mera absorção e reprodução desses saberes, próprias da atitude colonizada, pode promover a articulação desses saberes com outras formas de conhecimento próprias de nossas esferas comunitárias num processo antropofágico de aprendizagem do mundo e reformulação de si.
E para que o relacionar-se com o outro se dê de forma justa, solidária, de trocas dialéticas e não de imposições, Abdala Jr. propõe a utilização do método comparatista: comparar a experiência do outro à minha e pensar a minha experiência à luz das dos outros, num processo em que os dois pólos de comparação sejam encarados como sujeitos ativos e a partir do qual o crítico também possa aprender de maneira ativa e pessoalizada. E como o nosso campo de atuação (o do professor Benjamin e o meu também) são os estudos literários, nosso comparatismo não poderia ser outro que a Literatura Comparada, pois é dela que obtivemos a priori um contato com o comparatismo científico e ela já nos oferece ferramentas para um estudo interdisciplinar.
É da Literatura Comparada que eu parto para estudar as relações entre literatura e cinema, sendo que os Estudos de Literatura e Cinema compõem uma das linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa. A principal lição de casa que as propostas do professor Benjamin me deram é extrair da Literatura Comparada minha própria metodologia de trabalho, capaz de articular interdisciplinarmente ferramentas de análise vindas dos estudos literários e dos estudos de cinema sem perder a unidade e o foco. Essa tarefa não é simples, sobretudo porque meu objetivo é comparar sem submeter o cinema à literata ou a literatura ao cinema, e sim colocá-los em diálogo solidário. Um diálogo capaz de trazer à luz questões e respostas que jamais seriam visíveis de outra forma que não seja através desse por em contato.
Indicação bibliográfica:
ABDALA Jr., Benjamin. Geocrítica, marcas eurocêntricas e comparatismo literário. In: X Congresso AIL. Algarve: Universidade do Algarve. 18 a 23 de julho de 2011. Texto cedido pelo autor
ABDALA Jr., Benjamin. Administração da diferença, preservação da hegemonia. In: II Congresso Internacional de Estudos Utópicos. O que é utopia? Gênero e modos de representação. Campinas: Unicamp. 7 a 10 de junho de 2009. Texto cedido pelo autor.
Fabuloso!
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